quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A priorização da vitória no futebol de formação

Para já, pedir desculpa pela ausência de publicações, mas o tempo não tem permitido grandes desvios de pensamento.


Hoje escrevo sobre um tema que ultimamente que tem causado demasiada preocupação...
A formação em Portugal na generalidade, atravessa tempos difíceis, para não dizer ridículos. Numa região, torna-se difícil nomear clubes que trabalhem com uma metodologia definida, com uma identidade própria, procurando formar atletas, e não a vitória.
Assiste-se à vitória como objectivo principal, e à aprendizagem como um segundo plano. Querem-se "formar" os atletas para o sucesso imediato, para vencer. Ganhar tudo com 7, 8, 9 ...16 anos?? Para quê? Para ter miúdos a "não inventar lá atrás", para "cada um marcar o seu", para "tirar", "para "não fintar", etc.
O mais gritante, é que se olharmos para os clubes com mais "sucesso" (em quantidade de vitórias) nos escalões de formação, percebemos que na maioria são clubes que têm uma politica não de formação, mas sim de recrutamento. Trata-se então de um trabalho de curto prazo relativamente facilitado, pois clubes com maior expressão (e nem sequer me refiro aos "grandes" do futebol português), têm facilidade em aliciar os pais dos atletas, que parecem mais preocupados em alcançar um determinado status social por o seu filho jogar no "maior" clube da terrinha, do que aprender.
Na minha realidade mais próxima e olhando para as equipas que possuem formação e futebol sénior, exceptuando 1/2 casos raros, os restantes clubes da região, limitam-se a ter formação "por ter". Mas também a sua grande maioria esta acaba por não ter qualidade para chegar a profissionalização, ou pelo menos qualidade imediata. É inconcebível olhar para estruturas de clubes com dimensões consideráveis e descobrir que existe um, dois ou mesmo nenhum licenciado. Não que os licenciados sejam o expoente máximo da formação, mas sim porque têm capacidades no que diz respeito à pedagogia e normalmente na metodologia do treino que os distinguem. Não é por acaso que as maiores estruturas do futebol português têm na sua formação, em grande maioria profissionais licenciados. Não que os "não licenciados" sejam incapazes de fazer belos trabalhos, mas sim porque os treinadores, directores, etc., são os ex-jogadores, os amigos do presidente, entre outros, que treinam futebol sénior com miúdos de 10 anos.
As crianças precisam do jogo, precisam de situações de 1x1, de 2x2, de 3x3... com constrangimentos que provoquem inferioridade/ igualdade/ superioridade e não de estar 7 em cada fila, a executar uma jogada padronizada que o treinador idealizou e que nunca vão fazer, porque adivinhem, no jogo real existe ADVERSÁRIO e não pinos/ bonecos.

E isto só mudará quando os pais dos atletas forem educados (ou seja, provavelmente nunca) e em vez de quererem a notoriedade e a vitória, queiram a aprendizagem a formação. Porque transferindo isto para a via escolar, se o filho tiver um Excelente no teste porque decorou as respostas ou as fórmulas de matemática, mas não porque percebeu as contas/operações que fez, mais cedo ou mais tarde, ele vai ter insucesso e não vai conseguir fazer as contas mais complicadas. Mas aì, de quem será a culpa? Do professor actual? Ou de todos os outros que só lhe ensinaram a ter sucesso?

Por isso gosto de pensar no futebol e nas pessoas que comandam as equipas de formação como professores, e não tanto como treinadores. Porque o que é necessário é cativar os atletas através do treino e torná-los curiosos quanto ao jogo e não porque o treinador é muito "fixe", porque faz as vontades e dá chocolates aos meninos. O futebol, como qualquer outra modalidade tem de ser "ensinada" e o erro é o motor da aprendizagem. Porque os atletas precisam de saber que determinada acção funciona ou não por si próprios e não porque o treinador lhes diz para não fazer, e daqui voltamos mais uma vez à necessidade das formas jogadas no treino, porque o jogo oferece todas as variantes!! E assim o atleta (guiado pelo treino e constrangimentos do professor) conseguirá descobrir/aprender por si próprio, percebendo as melhores soluções tendo em conta o próprio eu!

domingo, 13 de julho de 2014

Final do Mundial 2014



Ainda não tinha escrito nenhuma publicação com este tema, pois no meu entendimento e na minha forma de pensar o jogo, este tem sido um mundial fraquíssimo, com selecções (com jogadores) de top, a cometerem erros banais, que se conseguem ver no nosso Campeonato Nacional de Seniores. Marcações Individuais no campo todo, diferentes linhas defensivas, fase de construção completamente vertical, jogadores só para atacar e jogadores só para defender, etc.
No meu entender, e sendo esta a competição com maior projecção mundial, existiriam condições para que fosse praticado do melhor futebol do mundo. Mas isso são outras contas.

Mas proponho-me essencialmente a comentar a final a realizar no próximo domingo
E se o futebol hoje for justo (mais uma vez), ganhará a equipa melhor organizada, mais esclarecida em todos os momentos, portanto, a Alemanha. E tendo em conta o impacto isto poderá ter, espero que a nível geral se comece a olhar realmente para o jogo, e deixemos de ouvir os comentadores desportivos falar em humidade, motivação e outras tantas desculpas para o insucesso.

Relativamente àquilo que a Alemanha pode fazer tendo em conta esta Argentina:

Nos cantos, a Argentina (contra a Holanda) defendeu misto, HxH todos os homens da Holanda no interior da área, colocando os sobrantes 3 na linha do poste.

Ora vejamos o que a Alemanha fez a uma selecção que defendia os cantos de forma relativamente parecida:



Na seguinte imagem repara-se:
- Defesa completamente posicional. Kuyt sai a conduzir do corredor (Zabaleta acompanhou) e não houve basculação. Argentina a jogar em "campo grande". V. Persie (não aparece na imagem) fica no corredor em situação de possível 1x0 ou 1x1.
- Espaço entre linha média e defensiva. Robben acaba por ir receber a bola no circulo a laranja.


Mais uma vez, espaço no corredor central. Argentina concentrada do lado da bola. Se bola entra no corredor central, Sneijder ficava em situação de 3x3 e com oportunidade de finalização.

Dada a quantidade de jogadores e a facilidade que a Alemanha tem em jogar entre linhas, nomeadamente no corredor central, e a frequência de variações do sentido de jogo, senão vejamos:



Bola no corredor lateral, atraindo a equipa brasileira. Variou para o corredor central e de seguida a bola entra no espaço das diferentes linhas defensivas.

Falando daquilo que é a maior debilidade da Alemanha: a Transição Defensiva, e aqui, a capacidade de Messi para atrair e fixar será preponderante:





PS: Será acaso o factor Pep Guardiola? Ou seja, os jogadores das equipas dele estiveram sempre em maioria nas selecção espanhola em 2008/2010/2012 e agora na Alemanha? Se repararmos com atenção, existiu/existe muito dele nestas selecções que venceram/estão próximas de vencer.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Transição defensiva ou Organização Ofensiva?

"Deparamo-nos com um que é para mim o mais difícil de trabalhar, o momento de transição defensiva" Aqui por Carlos Carvalhal.

Encontrava-me a vaguear no site pessoal do treinador Carlos Carvalhal (Aqui), que pessoalmente admiro, quando me deparei com esta afirmação.
A transição defensiva é de facto, difícil de treinar, pois exige uma rápida coordenação posicional de toda a equipa, pedindo-se uma rápida recuperação dos jogadores, sendo que segundo os princípios de jogo, se pretende garantir imediatamente a superioridade numérica a defender.
Mas o treino da Transição Defensiva, pergunto eu, não passa em grande parte pela mudança da mentalidade dos jogadores? Ou seja, que estes se predisponham imediatamente após à perda da posse, a posicionarem-se rapidamente, implicando um esforço adicional? Na minha opinião, esta é a maior questão deste momento do jogo, pois quantos de nós já tivemos jogadores/colegas que só corriam com bola ou no momento ofensivo. Passa então em grande parte por um processo de coaching, pois qual será a motivação dos jogadores, após a desilusão de perderem a posse, em fazerem um sprint esforçado para fazerem imediatamente contenção ou uma cobertura?

No entanto, e fazendo um aparte,  a rápida recuperação da posse, acompanha as equipas de topo, ou seja, num estudo realizado na Liga Alemã (link aqui), revela que os 3 primeiros classificados, apresentam menor tempo de recuperação da posse comparativamente com os restantes. Sendo uma associação clara com a probabilidade e quantidade de vitórias.

Contudo  e passando à frente, considero a Organização Ofensiva, o momento mais difícil de treinar, pois não é um processo "linear" como os momentos defensivos, em que é pouco necessário a imaginação/criatividade. Agora em organização ofensiva, encontrando defesas organizadas, e conseguir ter uma série de processos que nos permitam entrar nos espaços entre linhas, jogar no espaço central, desorganizando o adversário e percepcionando e executando rapidamente, requer já criatividade, qualidade técnica individual e uma grande percepção do jogo. Porque o colega até pode aparecer
no espaço certo com as melhores condições, mas se o colega não percepcionou atempadamente ou não executou eficientemente, o perigo já não vai ser criado. Tendo jogadores "criativos" o caso muda de figura.

Por isto acho que é necessário muito mais "engenho" para operacionalizar este momento de jogo, do que todos os outros, por se ter de trabalhar tanto as movimentações pretendidas, como ser necessário que os atletas decidam atempadamente, e este ultimo é um processo que caso se trate do futebol sénior, já devia ter sido passado na formação, e mais moroso de trabalhar enquanto sénior.





domingo, 27 de abril de 2014

"Defender bem é uma arte"

Jesus a partir diz aos 2:50 "defender bem é uma arte"

Nada mais certo, e este Benfica em Organização Defensiva é uma das melhores equipas mundiais (a par do Chelsea, Atlético ou Juve). Absolutamente incrível o difícil que é penetrar na "habitual" organização defensiva de Jesus (daqui temos de tirar o Steven Vitória de hoje e o Maxi de sempre, que continua a ter como referência o homem e não a bola). 
Linhas próximas, sucessivas coberturas, basculação incrível com todos os jogadores (exceptuando Cardozo quando em jogo) em movimento, ajustando, sempre conseguindo controlar espaço entre-linhas, no entanto se este é penetrado, garante-se imediatamente a profundidade.

A par de Vitor Pereira (Lateral Esquerdo explica o porquê), o mais "esclarecido" treinador do futebol português

PS. Peço desculpa pela falta de publicações ultimamente, mas encontro-me numa fase de maior sobrecarga laboral. 

domingo, 16 de março de 2014

Abdoulaye

Rui Vitória, no mercado de inverno dizia sobre Abdoulaye: " é um jogador que tem potencial para ser um dos melhores centrais da Europa a breve prazo".

Cada vez que vejo um jogo do FCP, tenho dificuldades em vislumbrar isto, pois os erros posicionais multiplicam-se. Tantas falhas nos ajustes de posição, dando o interior aos adversários; cola-se a Mangala deixando grande espaço até Danilo( lance em que Montero cria situação de golo, perto dos 80'); utiliza o Homem como referência e não a zona; e diversas vezes a colocar os atacantes do Sporting em jogo, quando Mangala aguentava para os deixar em posição legal (o golo é o melhor exemplo)



Com a bola nos pés, a coisa não melhora muito, se pressionado erra e não hesita em bater para cima se necessário.


PS. Que saudades de Otamendi

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Real é assim tão forte?

Qualidade individual que nunca mais acaba. Ronaldo, Bale, Benzema, Di Maria, principalmente estes, responsabilizados quase sós por atacarem.Mas o futebol actual não vive só disto.
Em termos de organização ofensiva, uma equipa com muito poucas ideias (retirando criatividade individual) e com pouca paciência para ter a bola, ou seja, quando não há solução, normalmente coloca a bola em profundidade e os 3 génios da frente que resolvam. Em Organização Defensiva os 3 elementos da frente, ou não participam, ou fazem-no de uma forma completamente passiva. Dá então muitas vezes espaço entre a linha defensiva e média, e também espaço interior. Tivesse hoje apanhado uma equipa com maiores recursos técnicos e gostasse de jogar o jogo por dentro e tinha-se visto aflito.
Onde este Real é muito muito forte é nas Transições Ofensivas, 3 homens individualmente muito fortes a todos os níveis + Di Maria e que frequentemente conseguem situações de igualdade numérica. Mas mesmo a inferioridade (desde que não exagerada), não é problema para o ataque madrileno.

Arrisco-me a dizer que apesar do potencial e da qualidade individual dos jogadores, que quando este Real encontrar equipas mais fortes e organizadas (Bayern, Borussia, Barcelona, Chelsea), quase de certeza que ficará pelo caminho. E digo isto por uma razão, uma equipa de futebol são 11, e não 7/8+3/4, como Ancelotti faz. O que faz com que se abram espaços, pois o "lençol é curto, se se tapa num lado, destapa-se noutro". E provavelmente muitos me chamarão de louco depois desta goleada, mas é apenas o meu ponto de vista.


Notas:
Xabi Alonso - Fundamental nos equilíbrios da equipa. Hoje não o deixaram praticamente começar a 1ª fase de construção, mas é o autêntico pêndulo da equipa
Carvajal - 1ª vez que o vi, e parece não ter andamento. Muito fraco nos ajustes posicionais, sempre mais preocupado com o Homem que com a zona, abrindo por várias vezes espaço entre ele e o central. Muito nervoso com a bola no pé.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Estoril e Evandro

Nota: Esta observação foi preparada na semana passada aquando da vitória do Estoril sobre o Braga e a vitória sobre o Porto nada alterou esta.

O Estoril em Organização Ofensiva, normalmente procura virar flancos, para depois entrar nas costas da defesa com passes de ruptura (Evandro preponderante nestes). Uma equipa que consegue fazer as coisas rápidas e bem feitas, ou seja, joga muito bem ao 1º/2º toque, e devido à mobilidade dos seus jogadores, tem uma objectividade incrível e bastante eficaz. É em Transição Ofensiva que se denota com maior frequência esta qualidade.
Em Organização Defensiva, excelente a impedir a penetração pelo espaço interior, normalmente a deixar jogar até perto do meio-campo, e a partir daí, apenas permite que a bola entre nos flancos, para fazer pressão em superioridade. No meio campo, joga com dois pivôs defensivos (sim, como o FC Porto), formando 2+1, mas que em situação de ataque, passa a 1+2 (um dos pivôs passa a interior), garantindo linhas de passe e apoios ao portador da bola.
Mérito claro para Marco Silva, que conseguiu aplicar a este Estoril uma identidade de jogo bem definida, em que cada jogador, sabe perfeitamente aquilo que tem de fazer em cada momento do jogo.

Depois o Estoril tem Evandro Goebel, um jogador fundamental na manobra atacante da equipa, principalmente aos habituais passes de ruptura que habitualmente procura. Em termos defensivos, tem poucas responsabilidades, provavelmente porque Marco Silva, pretende que este esteja sempre presente nos processos ofensivos, uma vez que o jogador apresenta uma fraca capacidade de recuperação em transição ofensiva, ou seja, quando é obrigado, quer em transição ou em organização, a participar nos processos defensivos, leva demasiado tempo a recuperar e a estar disposto para atacar.



(Peço desculpa pela qualidade do vídeo, mas o jogo foi conseguido através de uma captura de ecrã)