quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Real é assim tão forte?

Qualidade individual que nunca mais acaba. Ronaldo, Bale, Benzema, Di Maria, principalmente estes, responsabilizados quase sós por atacarem.Mas o futebol actual não vive só disto.
Em termos de organização ofensiva, uma equipa com muito poucas ideias (retirando criatividade individual) e com pouca paciência para ter a bola, ou seja, quando não há solução, normalmente coloca a bola em profundidade e os 3 génios da frente que resolvam. Em Organização Defensiva os 3 elementos da frente, ou não participam, ou fazem-no de uma forma completamente passiva. Dá então muitas vezes espaço entre a linha defensiva e média, e também espaço interior. Tivesse hoje apanhado uma equipa com maiores recursos técnicos e gostasse de jogar o jogo por dentro e tinha-se visto aflito.
Onde este Real é muito muito forte é nas Transições Ofensivas, 3 homens individualmente muito fortes a todos os níveis + Di Maria e que frequentemente conseguem situações de igualdade numérica. Mas mesmo a inferioridade (desde que não exagerada), não é problema para o ataque madrileno.

Arrisco-me a dizer que apesar do potencial e da qualidade individual dos jogadores, que quando este Real encontrar equipas mais fortes e organizadas (Bayern, Borussia, Barcelona, Chelsea), quase de certeza que ficará pelo caminho. E digo isto por uma razão, uma equipa de futebol são 11, e não 7/8+3/4, como Ancelotti faz. O que faz com que se abram espaços, pois o "lençol é curto, se se tapa num lado, destapa-se noutro". E provavelmente muitos me chamarão de louco depois desta goleada, mas é apenas o meu ponto de vista.


Notas:
Xabi Alonso - Fundamental nos equilíbrios da equipa. Hoje não o deixaram praticamente começar a 1ª fase de construção, mas é o autêntico pêndulo da equipa
Carvajal - 1ª vez que o vi, e parece não ter andamento. Muito fraco nos ajustes posicionais, sempre mais preocupado com o Homem que com a zona, abrindo por várias vezes espaço entre ele e o central. Muito nervoso com a bola no pé.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Estoril e Evandro

Nota: Esta observação foi preparada na semana passada aquando da vitória do Estoril sobre o Braga e a vitória sobre o Porto nada alterou esta.

O Estoril em Organização Ofensiva, normalmente procura virar flancos, para depois entrar nas costas da defesa com passes de ruptura (Evandro preponderante nestes). Uma equipa que consegue fazer as coisas rápidas e bem feitas, ou seja, joga muito bem ao 1º/2º toque, e devido à mobilidade dos seus jogadores, tem uma objectividade incrível e bastante eficaz. É em Transição Ofensiva que se denota com maior frequência esta qualidade.
Em Organização Defensiva, excelente a impedir a penetração pelo espaço interior, normalmente a deixar jogar até perto do meio-campo, e a partir daí, apenas permite que a bola entre nos flancos, para fazer pressão em superioridade. No meio campo, joga com dois pivôs defensivos (sim, como o FC Porto), formando 2+1, mas que em situação de ataque, passa a 1+2 (um dos pivôs passa a interior), garantindo linhas de passe e apoios ao portador da bola.
Mérito claro para Marco Silva, que conseguiu aplicar a este Estoril uma identidade de jogo bem definida, em que cada jogador, sabe perfeitamente aquilo que tem de fazer em cada momento do jogo.

Depois o Estoril tem Evandro Goebel, um jogador fundamental na manobra atacante da equipa, principalmente aos habituais passes de ruptura que habitualmente procura. Em termos defensivos, tem poucas responsabilidades, provavelmente porque Marco Silva, pretende que este esteja sempre presente nos processos ofensivos, uma vez que o jogador apresenta uma fraca capacidade de recuperação em transição ofensiva, ou seja, quando é obrigado, quer em transição ou em organização, a participar nos processos defensivos, leva demasiado tempo a recuperar e a estar disposto para atacar.



(Peço desculpa pela qualidade do vídeo, mas o jogo foi conseguido através de uma captura de ecrã)


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Kroos vs Lahm

Toda a gente se espantou com esta imagem. Dizem que Kroos fez a sua melhor exibição ontem, pelo seu grande golo, e pelo seu nº de passes completos ter sido semelhante ao da equipa inteira do Arsenal.

(from squawka.com)
Eu pergunto: quantos desses passes foram realmente "importantes"? O gráfico indica apenas 1 (seta amarela reflecte "passes-chave"). Ou de outra forma, onde está a sua objectividade? Se olharmos com atenção para o gráfico, percebemos que apenas 5 dos seus passes entraram na área, de resto, limitou-se apenas a jogar para o lado. E este passe para o lado, tem alguma coisa a ver com a penetração característica pelo interior, quebrando as linhas média e defensiva, característica de Guardiola e deste Bayern? Não me parece. Não querendo menosprezar Kroos, como grande jogador que é, sempre ouvi dizer que quantidade não é qualidade, e neste caso aplica-se perfeitamente.

No entanto, se olharmos para Lahm, o tal Lateral-direito que se encontra "adaptado" a médio centro, vemos isto:


Excelente movimentação de Pizarro (é isto que ele oferece que Mandzukic não consegue), levando com ele Mertesacker (porquê marcação HxH???), Muller aparece no espaço. Lahm com bola e ninguém faz pressão, este tem tempo para tudo.

Guardiola disse que Lahm é o melhor jogador com quem já trabalhou, e que pode desempenhar todas as posições. (veja aqui)


Lateral Esquerdo fala sobre isto mesmo numa publicação.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Tomada de decisão na finalização

O que condiciona o momento da finalização? O enquadramento do jogador com a baliza? A posição do Guarda redes? A colocação que decide colocar na bola? E por fim, o sucesso do gesto técnico?
A percepção destas todas condicionantes, são preponderantes para existir golo, senão vejamos:


Salah (no vídeo), percepciona o contexto da jogada? Ou pura e simplesmente chuta, na esperança que Krul não apanhe a bola. Quantas vezes Salah focou a baliza antes do remate? Nenhuma! Ora se não olhou,  como conseguiu perceber a posição do GR, e face ao seu enquadramento com a baliza, decidir para onde ia colocar a bola?

Tenho então a sorte de estar num clube (Associação Desportiva de Olhão - 4 ao Cubo) em que me encontro rodeado de pessoas com tanta curiosidade como eu, então após observar que este fenómeno do "remate ao acaso", acontecia muito mais vezes que o desejável, decidimos quantificar isto em valores.

O escalão analisado foi o de Infantis A, em dois jogos, apresentando os seguintes valores:



Foca a baliza antes da finalização
Não foca a baliza antes da finalização
7 de Dezembro de 2013
13 remates (8 Golos)
17 remates (2 Golos)
4 de Janeiro de 2013
10 remates (7 Golos)
23 remates (2 Golos)

37%
(65% destes remates dão golo)
63%
(10% destes remates dão golo)








 

Percebe-se à partida que os jogadores focam a baliza muito menos vezes que o aceitável. No entanto, 65% das vezes que percepcionaram o contexto, marcaram golo, ao invés que apenas 10% dos remates deram golo quando não focaram a baliza.
Claramente se comprova a importância da percepção no momento da finalização, demonstrando que esta está intimamente ligada ao sucesso da acção.

Posto isto, começou-se a realizar trabalho específico neste sentido, e após muitos exercícios de finalização com alvos, com decisão controlada pelo treinador, entre outros, neste fim de semana, optamos por voltar a recolher resultados:


Foca a baliza antes da finalização
Não foca a baliza antes da finalização
15 de Fevereiro de 2014
12 remates (6 golos)
5 remates (0 golos)

71%
(50% destes remates deram golo)
29%
(não existiram golos)








Denota-se uma clara melhoria na preocupação dos atletas em focarem a baliza antes da finalização, e que o trabalho realizado obteve sucesso.

Esta trata-se de mais uma prova de que o Scouting pode ser utilizado para o benefício e melhora da performance das próprias equipas!!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Uma boa estratégia com uma aplicabilidade perfeita

O Liverpool conseguiu trucidar completamente o Arsenal com uma estratégia muito bem montada, que conseguiu limitar quase de forma completa o adversário e explorar os pontos fracos deste.

Nota: Esta análise é realizada à equipa do Liverpool e centra-se particularmente na 1ª parte,onde o Liverpool construiu o 4-0.

Apresentou-se em 1-4-1-2-3, sendo que nos momentos ofensivos passava para 1-3-4-3 (Gerrard baixa para o meio dos centrais)

Organização Ofensiva:
1ª fase: Bola nos centrais ou em Gerrard (baixava para 3º central) para tentar bola profunda. A bola foi sempre colocada nos corredores laterais.
A partir do momento em que ganhavam profundidade, ultrapassando quase toda a linha média do Arsenal e encarando a linha defensiva, procurava movimentações entre o seu ataque móvel (sempre em inferioridade).


Organização Defensiva:

Apenas ficava um elemento mais adiantado. Extremos baixavam e fechavam corredores laterais, enquanto que defesas laterais, fechavam espaço interior.  Clara protecção do espaço interior, onde a equipa se encontrava muito compacta. Orientou sempre a pressão para os corredores laterais, para ai, pressionar forte  e com superioridade numérica.


Transição Defensiva:

A reacção à perda consistia numa pressão imediata e intensa por parte do homem mais perto da bola. Os restantes jogadores basculavam muito bem e ocupavam uma marcação zonal, procurando ter sempre homens perto. Objectivava que o Arsenal jogasse em profundidade (contrariando o seu característico futebol apoiado e por espaços interiores), obrigando-o a errar.
Haviam claros estímulos de pressão: bola nos corredores; bola em Sagna e em Mertesacker.


Transição Ofensiva:

Uma grande verticalidade, procurando quase sempre passe profundo para as laterais, jogando ai, até definir último passe para o interior. Tenta chegar rápido com vários homens, criando igualdade ou superioridade numérica, ocupando sempre os 3 corredores. Coutinho preponderante nos passes de ruptura. Procurou também explorar a pouca velocidade e a desorganização da defesa do Arsenal (centrais sempre muito abertos; Sagna atrasado; não existia médio defensivo definido para garantir superioridade numérica na transição defensiva ), para explorar bolas nas costas.



Erro:

Situação potencialmente perigosa do Arsenal.
Transição defensiva mais demorada, bloco desposicionado. É Cissokho quem fecha o corredor lateral por Sterling ainda se encontrar longe. Sagná joga rápido e a partir daí desposiciona defesa adversária, criando marcação HxH. Muito má a abordagem se Skrtel, valeu a deficiente conclusão de Giroud.




Destaques:

Coutinho - Excelente nos passes de ruptura, grande agressividade a defender e excelentes compensações defensivas.
Gerrard - O líder da equipa, preponderante na manobra defensiva.
Sterling - Muito aplicado, cumpriu sempre defensivamente, muito intenso na pressão, e aproveitou muito bem as lacunas de Sagna/ Mertesacker.

Conclusão:

Liverpool anula Arsenal ao orientar a pressão para as laterais, tirando o Arsenal do interior. Não lhes permite também jogar curto, pela pressão intensa (obrigando a jogar directo), e pela excelente marcação zonal, cortando sempre as linhas de passe ao Arsenal (também esteve pouco dinâmico).
Rapidíssimo na transição ofensiva, criando situações de igualdade e superioridade numérica.