quarta-feira, 15 de outubro de 2014

E quando o resultado não aparece?

Recordemos as declarações de Vitor Pereira acerca do golo no minuto 92.

   

O trabalho estaria lá sempre. Este Porto continuaria a ter dos processos mais bem definidos - e com qualidade - que se viu por cá, e por isso esteve sempre mais próximo do sucesso.
Mudar ideias de jogo conforme os jogos, jogar diferente do treino, até pode resultar a curto prazo, mas as consequências acabarão por aparecer...
Tenho quase a certeza que nenhuma equipa tem como modelo de jogo predefinido ou treina o "chutão", mas sendo assim, porque é que se vêm tantas equipas a utilizá-lo?

Relembro a 2ª mão das meias-finais da ultima edição das Champions. O Bayern perdeu por 4 a 0 nesse jogo, mas nunca abandonou a sua forma de jogar, nunca bateu longo, nunca colocou os defesas a avançados, nunca foi na loucura dos cruzamentos, pelo contrário, manteve-se sempre fiel ao seu jogo.

Numa das melhores experiências que já tive ouvi: "O que não fazes no jogo, não fazes no treino", a propósito de um disparate feito num treino na 1ª fase de criação que resultou em golo. E faz todo o sentido, porque se o treino for sempre enquadrado com o jogo e que permita um envolvimento ecológico, o jogador vai ter sempre um background geral que lhe permita decidir conforme as variantes que vão aparecendo, conforme uma ideia de jogo definida. Porque não é possível pedir comportamentos aos atletas que nunca foram treinados, porque não é no jogo que se iniciam aprendizagens. O jogo consolida os aspectos trabalhados em treino.

E a este nível, devido à pressão dos resultados - por toda a envolvência exterior que hoje o futebol profissional tem - é usual ver as equipas a renderem-se à "vitória a qualquer custo". Mas no futebol de formação isto não tem qualquer sentido. E pergunto, e isto não acontece com os miúdos? Claro que acontece, ao fim de semana, em todos os campos/estádios do nosso país.
Continuam e continuarão a existir treinadores que gritam um jogo inteiro decidindo pelos jogadores, que pedem que "não se invente lá atrás" com o medo do golo sofrido, que têm jogadas estudadas para cada bola parada e que ganham os jogos nesses detalhes. E agora pergunto, e de que serve isso se a equipa não é competente? Se a equipa não respeita os princípios de jogo e nem sequer um modelo de jogo? Equipas de miúdos de 10 anos que defendem "abertos", que andam em correrias atrás da sua marcação individual, que não sabem o que é uma linha de passe e que se limitam a jogar um jogo de matraquilhos autêntico, onde o que chuta mais forte e é mais habilidoso normalmente ganha.
Raça? Garra? Espírito de sacrifício? E quando é que a estas palavras são acrescentadas: Organização e Diversão? Os miúdos têm que sair satisfeitos do jogo pelas fintas que fizeram, pela noção clara das suas tarefas e pela organização que impuseram e não apenas pelo resultado final. O jogo tem de ser prazeroso e não um sacrifício.

E o que resta sem as vitórias? O trabalho realizado e que identifica um grupo.
"O único lugar onde sucesso vem antes do trabalho é no dicionário." Albert Einstein

domingo, 12 de outubro de 2014

A abordagem "deixem os miúdos jogar!"



No clube/ escola de futebol onde me encontro, tive a oportunidade de aprender e evoluir inserido na metodologia e identidade do clube, mas de uma forma "ecológica", ou seja, sempre atentando ao envolvimento, a todas as condicionantes que me permitiram "crescer" ganhando pensamento crítico, ideias próprias e vontade de trabalhar.
Por isso, escrevo sobre aquilo que são as minhas influências, no que diz respeito à metodologia do treino e áreas adjacentes. Não me considerando eu certo e os que pensam diferente de mim, errados.

Segundo Pedro Passos, Rui Batalau e Pedro Gonçalves em "Comparação entre as abordagens ecológica e cognitivista para o treino da tomada de decisão no Ténis e no Rugby" temos que:


Na abordagem cognitivista, "o treinador deve descrever ao atleta com base num modelo ideal de execução quais as principais componentes críticas de uma tarefa" centrando-se "nos atletas e na forma como estes realizam a acção proposta, menosprezando a influência das condições da tarefa e do envolvimento". Torna-se importante que "o treinador prescreva um modelo de execução considerado ideal, de modo a induzir nos atletas uma noção clara do esquema de acção que se pretende que seja interiorizado."

Na abordagem ecológica, defende-se que "percepcionamos a informação presente no contexto para decidirmos e agirmos, e com a nossa acção alteramos a informação do contexto para continuarmos a decidir e a agir e assim sucessivamente". E a acção, "mais do que dependente da capacidade do indivíduo está condicionada pelo que o contexto permite fazer" "sendo a decisão um processo emergente" de procura de soluções para o contexto.
"Então todas as nossas decisões, não farão sentido quando retiradas do contexto, por exemplo, a decisão de um atacante no Rugby em alterar a sua linha de corrida, só acontece porque percepciona a posição de um defesa no seu caminho para a zona de ensaio, e ao alterar a linha de corrida, fá-lo (agindo) para percepcionar o que o defesa irá fazer (qual a sua acção), e assim sucessivamente, da mesma forma, a decisão de um jogador de Ténis em bater a bola para determinada zona do court, só acontecerá porque percepciona que o adversário dificilmente lá chegará em condições para responder com sucesso." "Neste sentido, não é aconselhável determinar à partida qual o gesto técnico que pretendemos que os nossos jogadores realizem".

Este artigo, analisou as duas abordagens, quer para o gesto técnico da placagem no rugby e para o 1º serviço no ténis.

CONCLUSÕES
"Quer para o Rugby como para o Ténis, constatou-se que o grupo da abordagem ecológica, em que o treino assenta numa manipulação dos constrangimentos, é aquele que apresentou durante mais tempo e com maior frequência desempenhos próximos do seu melhor. Conduzir o treino para a procura dos modelos ideais de execução, leva a que os atletas tenham maiores oscilações entre bons e maus desempenhos."

Percebe-se portanto, que a abordagem ecológica proporciona aos atletas uma progressão mais "linear", ao contrário da abordagem cognitivista, que faz com que a performance oscile entre valores mínimos e máximos.

No entanto, o que é a abordagem ecológica? É na sua maior simplicidade o JOGO. Jogo com tudo! Jogos reduzidos, jogos com constrangimentos e tudo o que permita aos atletas decidir, tudo o que crie um envolvimento instável em constante mudança!
Ora de seguida, proponho então um pensamento crítico acerca de alguns  exemplos de exercícios tipo, que costumam incluir filas de espera ou comportamentos padronizados com espaço reduzido para a decisão. Proponho então o JOGO em cada exercício:

Objectivo:
Abordagem cognitivista
Abordagem ecológica
Princípios correspondentes:
1º ofensivo (penetração) e 1º defensivo (contenção.

Objectivo: Mudanças de direcção no drible.
- Duas filas, duas balizas;
- O azul faz passe e fica imediatamente a defender, sendo que o vermelho pode fazer golo numa das duas balizas;
- Acabando a acção, voltam as filas.

- Campo de 1x1;
- Pode atacar qualquer uma das balizas. Defende as duas balizas. Jogo contínuo.



Princípios correspondentes: 1º ofensivo

Objectivo: Realização de dribles e técnicas de finta.
- Em fila, parte o primeiro da fila;
- Dribla pinos azuis. Chegado ao laranja executa finta pedida pelo treinador (ex. tesoura, roleta,etc) e de seguida finaliza;
- Acabando a acção, voltam as filas.


- Situação de 1x1. Cada atleta defende uma baliza definida e ataca a outra;
- Se executar a finta seguida de um golo, este vale 2 pontos.

Princípios correspondentes: 1º e 2º ofensivo (cobertura ofensiva) e 1º defensivo.

Objectivo: Provocar e fixar defesa.
Defesa em inferioridade.



- Situação de 2x1+GR. Duas filas de atacantes (azuis) e uma fila de defesas (vermelhos);
- Ao apito, saem os primeiros de cada fila e realizam situação de 2x1+GR;
- Acabando a acção, voltam as filas.

- Situação de 2x1+GR;
- Equipa em momento defensivo tem de baixar um guarda-redes.

Princípios correspondentes: 3º (mobilidade) e 4º ofensivo (espaço).
3º (equilíbrio) e 4º defensivo (concentração).

Objectivo: Procurar cruzamento para finalizar com superioridade na área.
- Exercício para treino de movimentos padrão (do que mais se vê, e tantas vezes o fiz enquanto jogador da formação);
- Neste caso, procura o cruzamento e finalização na área.
- Acabando a acção, voltam as filas.


- GR+10x10+GR, em meio-campo;
- Duas áreas a azul (nos corredores laterais), que apenas podem ser ocupadas por um jogador da equipa que ataca. A equipa que defende nunca pode ter ninguém na área azul.


Nota: Estes são exercícios isolados, escolhidos ao acaso, que correspondem a objectivos diferentes, portanto compilados, não fariam parte de UMA sessão de treino.

Estando a correr o risco de estar a extremar a abordagem cognitivista, fechando (quase ao máximo) os seus exercícios, é muito isto que se encontra por aí. Os treinadores a quererem controlar todas as acções dos atletas, colocando-os assim em fila, e realizando o exercício à vez, para o treinador poder aprovar ou não a acção realizada, conforme os padrões idealizados por este.
Aquilo que se propõe é muito mais que isso, é libertar os atletas, é oferecer-lhe condições para estarem em actividade motora todo o tempo de um exercício, envolvidos com o adversário, procurando a superação contínua e com um ambiente criado pelos constrangimentos impostos pelo treinador.

Pelo estudo acima citado, percebe-se que uma abordagem ecológica, permitindo aos atletas uma "descoberta guiada" oferece resultados interessantes e mais estáveis que a outra abordagem, então porque não aplicar isso e mais que isso experimentar com os atletas. Vamos reflectir, acham que os atletas preferem num exercício de 15 minutos, estar todo esse tempo em actividade motora, ou preferem estar numa fila, fazendo "o mesmo" mas só 5/6 vezes, estando em acção durante 2/3 minutos? A resposta parece óbvia. Será que os atletas preferem descobrir por si próprios a solução para os seus problemas, ou que alguém lhes impinja uma única solução obrigatória? Até porque no jogo, o treinador não pode mandar parar este, para "indicar" a melhor solução. Portanto é urgente que os atletas comecem a decidir por si e pelo envolvimento, para que o papel do treinador durante o jogo seja cada vez menor!

Vamos cativar os miúdos pelo treino!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A priorização da vitória no futebol de formação

Para já, pedir desculpa pela ausência de publicações, mas o tempo não tem permitido grandes desvios de pensamento.


Hoje escrevo sobre um tema que ultimamente que tem causado demasiada preocupação...
A formação em Portugal na generalidade, atravessa tempos difíceis, para não dizer ridículos. Numa região, torna-se difícil nomear clubes que trabalhem com uma metodologia definida, com uma identidade própria, procurando formar atletas, e não a vitória.
Assiste-se à vitória como objectivo principal, e à aprendizagem como um segundo plano. Querem-se "formar" os atletas para o sucesso imediato, para vencer. Ganhar tudo com 7, 8, 9 ...16 anos?? Para quê? Para ter miúdos a "não inventar lá atrás", para "cada um marcar o seu", para "tirar", "para "não fintar", etc.
O mais gritante, é que se olharmos para os clubes com mais "sucesso" (em quantidade de vitórias) nos escalões de formação, percebemos que na maioria são clubes que têm uma politica não de formação, mas sim de recrutamento. Trata-se então de um trabalho de curto prazo relativamente facilitado, pois clubes com maior expressão (e nem sequer me refiro aos "grandes" do futebol português), têm facilidade em aliciar os pais dos atletas, que parecem mais preocupados em alcançar um determinado status social por o seu filho jogar no "maior" clube da terrinha, do que aprender.
Na minha realidade mais próxima e olhando para as equipas que possuem formação e futebol sénior, exceptuando 1/2 casos raros, os restantes clubes da região, limitam-se a ter formação "por ter". Mas também a sua grande maioria esta acaba por não ter qualidade para chegar a profissionalização, ou pelo menos qualidade imediata. É inconcebível olhar para estruturas de clubes com dimensões consideráveis e descobrir que existe um, dois ou mesmo nenhum licenciado. Não que os licenciados sejam o expoente máximo da formação, mas sim porque têm capacidades no que diz respeito à pedagogia e normalmente na metodologia do treino que os distinguem. Não é por acaso que as maiores estruturas do futebol português têm na sua formação, em grande maioria profissionais licenciados. Não que os "não licenciados" sejam incapazes de fazer belos trabalhos, mas sim porque os treinadores, directores, etc., são os ex-jogadores, os amigos do presidente, entre outros, que treinam futebol sénior com miúdos de 10 anos.
As crianças precisam do jogo, precisam de situações de 1x1, de 2x2, de 3x3... com constrangimentos que provoquem inferioridade/ igualdade/ superioridade e não de estar 7 em cada fila, a executar uma jogada padronizada que o treinador idealizou e que nunca vão fazer, porque adivinhem, no jogo real existe ADVERSÁRIO e não pinos/ bonecos.

E isto só mudará quando os pais dos atletas forem educados (ou seja, provavelmente nunca) e em vez de quererem a notoriedade e a vitória, queiram a aprendizagem a formação. Porque transferindo isto para a via escolar, se o filho tiver um Excelente no teste porque decorou as respostas ou as fórmulas de matemática, mas não porque percebeu as contas/operações que fez, mais cedo ou mais tarde, ele vai ter insucesso e não vai conseguir fazer as contas mais complicadas. Mas aì, de quem será a culpa? Do professor actual? Ou de todos os outros que só lhe ensinaram a ter sucesso?

Por isso gosto de pensar no futebol e nas pessoas que comandam as equipas de formação como professores, e não tanto como treinadores. Porque o que é necessário é cativar os atletas através do treino e torná-los curiosos quanto ao jogo e não porque o treinador é muito "fixe", porque faz as vontades e dá chocolates aos meninos. O futebol, como qualquer outra modalidade tem de ser "ensinada" e o erro é o motor da aprendizagem. Porque os atletas precisam de saber que determinada acção funciona ou não por si próprios e não porque o treinador lhes diz para não fazer, e daqui voltamos mais uma vez à necessidade das formas jogadas no treino, porque o jogo oferece todas as variantes!! E assim o atleta (guiado pelo treino e constrangimentos do professor) conseguirá descobrir/aprender por si próprio, percebendo as melhores soluções tendo em conta o próprio eu!

domingo, 13 de julho de 2014

Final do Mundial 2014



Ainda não tinha escrito nenhuma publicação com este tema, pois no meu entendimento e na minha forma de pensar o jogo, este tem sido um mundial fraquíssimo, com selecções (com jogadores) de top, a cometerem erros banais, que se conseguem ver no nosso Campeonato Nacional de Seniores. Marcações Individuais no campo todo, diferentes linhas defensivas, fase de construção completamente vertical, jogadores só para atacar e jogadores só para defender, etc.
No meu entender, e sendo esta a competição com maior projecção mundial, existiriam condições para que fosse praticado do melhor futebol do mundo. Mas isso são outras contas.

Mas proponho-me essencialmente a comentar a final a realizar no próximo domingo
E se o futebol hoje for justo (mais uma vez), ganhará a equipa melhor organizada, mais esclarecida em todos os momentos, portanto, a Alemanha. E tendo em conta o impacto isto poderá ter, espero que a nível geral se comece a olhar realmente para o jogo, e deixemos de ouvir os comentadores desportivos falar em humidade, motivação e outras tantas desculpas para o insucesso.

Relativamente àquilo que a Alemanha pode fazer tendo em conta esta Argentina:

Nos cantos, a Argentina (contra a Holanda) defendeu misto, HxH todos os homens da Holanda no interior da área, colocando os sobrantes 3 na linha do poste.

Ora vejamos o que a Alemanha fez a uma selecção que defendia os cantos de forma relativamente parecida:



Na seguinte imagem repara-se:
- Defesa completamente posicional. Kuyt sai a conduzir do corredor (Zabaleta acompanhou) e não houve basculação. Argentina a jogar em "campo grande". V. Persie (não aparece na imagem) fica no corredor em situação de possível 1x0 ou 1x1.
- Espaço entre linha média e defensiva. Robben acaba por ir receber a bola no circulo a laranja.


Mais uma vez, espaço no corredor central. Argentina concentrada do lado da bola. Se bola entra no corredor central, Sneijder ficava em situação de 3x3 e com oportunidade de finalização.

Dada a quantidade de jogadores e a facilidade que a Alemanha tem em jogar entre linhas, nomeadamente no corredor central, e a frequência de variações do sentido de jogo, senão vejamos:



Bola no corredor lateral, atraindo a equipa brasileira. Variou para o corredor central e de seguida a bola entra no espaço das diferentes linhas defensivas.

Falando daquilo que é a maior debilidade da Alemanha: a Transição Defensiva, e aqui, a capacidade de Messi para atrair e fixar será preponderante:





PS: Será acaso o factor Pep Guardiola? Ou seja, os jogadores das equipas dele estiveram sempre em maioria nas selecção espanhola em 2008/2010/2012 e agora na Alemanha? Se repararmos com atenção, existiu/existe muito dele nestas selecções que venceram/estão próximas de vencer.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Transição defensiva ou Organização Ofensiva?

"Deparamo-nos com um que é para mim o mais difícil de trabalhar, o momento de transição defensiva" Aqui por Carlos Carvalhal.

Encontrava-me a vaguear no site pessoal do treinador Carlos Carvalhal (Aqui), que pessoalmente admiro, quando me deparei com esta afirmação.
A transição defensiva é de facto, difícil de treinar, pois exige uma rápida coordenação posicional de toda a equipa, pedindo-se uma rápida recuperação dos jogadores, sendo que segundo os princípios de jogo, se pretende garantir imediatamente a superioridade numérica a defender.
Mas o treino da Transição Defensiva, pergunto eu, não passa em grande parte pela mudança da mentalidade dos jogadores? Ou seja, que estes se predisponham imediatamente após à perda da posse, a posicionarem-se rapidamente, implicando um esforço adicional? Na minha opinião, esta é a maior questão deste momento do jogo, pois quantos de nós já tivemos jogadores/colegas que só corriam com bola ou no momento ofensivo. Passa então em grande parte por um processo de coaching, pois qual será a motivação dos jogadores, após a desilusão de perderem a posse, em fazerem um sprint esforçado para fazerem imediatamente contenção ou uma cobertura?

No entanto, e fazendo um aparte,  a rápida recuperação da posse, acompanha as equipas de topo, ou seja, num estudo realizado na Liga Alemã (link aqui), revela que os 3 primeiros classificados, apresentam menor tempo de recuperação da posse comparativamente com os restantes. Sendo uma associação clara com a probabilidade e quantidade de vitórias.

Contudo  e passando à frente, considero a Organização Ofensiva, o momento mais difícil de treinar, pois não é um processo "linear" como os momentos defensivos, em que é pouco necessário a imaginação/criatividade. Agora em organização ofensiva, encontrando defesas organizadas, e conseguir ter uma série de processos que nos permitam entrar nos espaços entre linhas, jogar no espaço central, desorganizando o adversário e percepcionando e executando rapidamente, requer já criatividade, qualidade técnica individual e uma grande percepção do jogo. Porque o colega até pode aparecer
no espaço certo com as melhores condições, mas se o colega não percepcionou atempadamente ou não executou eficientemente, o perigo já não vai ser criado. Tendo jogadores "criativos" o caso muda de figura.

Por isto acho que é necessário muito mais "engenho" para operacionalizar este momento de jogo, do que todos os outros, por se ter de trabalhar tanto as movimentações pretendidas, como ser necessário que os atletas decidam atempadamente, e este ultimo é um processo que caso se trate do futebol sénior, já devia ter sido passado na formação, e mais moroso de trabalhar enquanto sénior.





domingo, 27 de abril de 2014

"Defender bem é uma arte"

Jesus a partir diz aos 2:50 "defender bem é uma arte"

Nada mais certo, e este Benfica em Organização Defensiva é uma das melhores equipas mundiais (a par do Chelsea, Atlético ou Juve). Absolutamente incrível o difícil que é penetrar na "habitual" organização defensiva de Jesus (daqui temos de tirar o Steven Vitória de hoje e o Maxi de sempre, que continua a ter como referência o homem e não a bola). 
Linhas próximas, sucessivas coberturas, basculação incrível com todos os jogadores (exceptuando Cardozo quando em jogo) em movimento, ajustando, sempre conseguindo controlar espaço entre-linhas, no entanto se este é penetrado, garante-se imediatamente a profundidade.

A par de Vitor Pereira (Lateral Esquerdo explica o porquê), o mais "esclarecido" treinador do futebol português

PS. Peço desculpa pela falta de publicações ultimamente, mas encontro-me numa fase de maior sobrecarga laboral. 

domingo, 16 de março de 2014

Abdoulaye

Rui Vitória, no mercado de inverno dizia sobre Abdoulaye: " é um jogador que tem potencial para ser um dos melhores centrais da Europa a breve prazo".

Cada vez que vejo um jogo do FCP, tenho dificuldades em vislumbrar isto, pois os erros posicionais multiplicam-se. Tantas falhas nos ajustes de posição, dando o interior aos adversários; cola-se a Mangala deixando grande espaço até Danilo( lance em que Montero cria situação de golo, perto dos 80'); utiliza o Homem como referência e não a zona; e diversas vezes a colocar os atacantes do Sporting em jogo, quando Mangala aguentava para os deixar em posição legal (o golo é o melhor exemplo)



Com a bola nos pés, a coisa não melhora muito, se pressionado erra e não hesita em bater para cima se necessário.


PS. Que saudades de Otamendi

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O Real é assim tão forte?

Qualidade individual que nunca mais acaba. Ronaldo, Bale, Benzema, Di Maria, principalmente estes, responsabilizados quase sós por atacarem.Mas o futebol actual não vive só disto.
Em termos de organização ofensiva, uma equipa com muito poucas ideias (retirando criatividade individual) e com pouca paciência para ter a bola, ou seja, quando não há solução, normalmente coloca a bola em profundidade e os 3 génios da frente que resolvam. Em Organização Defensiva os 3 elementos da frente, ou não participam, ou fazem-no de uma forma completamente passiva. Dá então muitas vezes espaço entre a linha defensiva e média, e também espaço interior. Tivesse hoje apanhado uma equipa com maiores recursos técnicos e gostasse de jogar o jogo por dentro e tinha-se visto aflito.
Onde este Real é muito muito forte é nas Transições Ofensivas, 3 homens individualmente muito fortes a todos os níveis + Di Maria e que frequentemente conseguem situações de igualdade numérica. Mas mesmo a inferioridade (desde que não exagerada), não é problema para o ataque madrileno.

Arrisco-me a dizer que apesar do potencial e da qualidade individual dos jogadores, que quando este Real encontrar equipas mais fortes e organizadas (Bayern, Borussia, Barcelona, Chelsea), quase de certeza que ficará pelo caminho. E digo isto por uma razão, uma equipa de futebol são 11, e não 7/8+3/4, como Ancelotti faz. O que faz com que se abram espaços, pois o "lençol é curto, se se tapa num lado, destapa-se noutro". E provavelmente muitos me chamarão de louco depois desta goleada, mas é apenas o meu ponto de vista.


Notas:
Xabi Alonso - Fundamental nos equilíbrios da equipa. Hoje não o deixaram praticamente começar a 1ª fase de construção, mas é o autêntico pêndulo da equipa
Carvajal - 1ª vez que o vi, e parece não ter andamento. Muito fraco nos ajustes posicionais, sempre mais preocupado com o Homem que com a zona, abrindo por várias vezes espaço entre ele e o central. Muito nervoso com a bola no pé.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Estoril e Evandro

Nota: Esta observação foi preparada na semana passada aquando da vitória do Estoril sobre o Braga e a vitória sobre o Porto nada alterou esta.

O Estoril em Organização Ofensiva, normalmente procura virar flancos, para depois entrar nas costas da defesa com passes de ruptura (Evandro preponderante nestes). Uma equipa que consegue fazer as coisas rápidas e bem feitas, ou seja, joga muito bem ao 1º/2º toque, e devido à mobilidade dos seus jogadores, tem uma objectividade incrível e bastante eficaz. É em Transição Ofensiva que se denota com maior frequência esta qualidade.
Em Organização Defensiva, excelente a impedir a penetração pelo espaço interior, normalmente a deixar jogar até perto do meio-campo, e a partir daí, apenas permite que a bola entre nos flancos, para fazer pressão em superioridade. No meio campo, joga com dois pivôs defensivos (sim, como o FC Porto), formando 2+1, mas que em situação de ataque, passa a 1+2 (um dos pivôs passa a interior), garantindo linhas de passe e apoios ao portador da bola.
Mérito claro para Marco Silva, que conseguiu aplicar a este Estoril uma identidade de jogo bem definida, em que cada jogador, sabe perfeitamente aquilo que tem de fazer em cada momento do jogo.

Depois o Estoril tem Evandro Goebel, um jogador fundamental na manobra atacante da equipa, principalmente aos habituais passes de ruptura que habitualmente procura. Em termos defensivos, tem poucas responsabilidades, provavelmente porque Marco Silva, pretende que este esteja sempre presente nos processos ofensivos, uma vez que o jogador apresenta uma fraca capacidade de recuperação em transição ofensiva, ou seja, quando é obrigado, quer em transição ou em organização, a participar nos processos defensivos, leva demasiado tempo a recuperar e a estar disposto para atacar.



(Peço desculpa pela qualidade do vídeo, mas o jogo foi conseguido através de uma captura de ecrã)


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Kroos vs Lahm

Toda a gente se espantou com esta imagem. Dizem que Kroos fez a sua melhor exibição ontem, pelo seu grande golo, e pelo seu nº de passes completos ter sido semelhante ao da equipa inteira do Arsenal.

(from squawka.com)
Eu pergunto: quantos desses passes foram realmente "importantes"? O gráfico indica apenas 1 (seta amarela reflecte "passes-chave"). Ou de outra forma, onde está a sua objectividade? Se olharmos com atenção para o gráfico, percebemos que apenas 5 dos seus passes entraram na área, de resto, limitou-se apenas a jogar para o lado. E este passe para o lado, tem alguma coisa a ver com a penetração característica pelo interior, quebrando as linhas média e defensiva, característica de Guardiola e deste Bayern? Não me parece. Não querendo menosprezar Kroos, como grande jogador que é, sempre ouvi dizer que quantidade não é qualidade, e neste caso aplica-se perfeitamente.

No entanto, se olharmos para Lahm, o tal Lateral-direito que se encontra "adaptado" a médio centro, vemos isto:


Excelente movimentação de Pizarro (é isto que ele oferece que Mandzukic não consegue), levando com ele Mertesacker (porquê marcação HxH???), Muller aparece no espaço. Lahm com bola e ninguém faz pressão, este tem tempo para tudo.

Guardiola disse que Lahm é o melhor jogador com quem já trabalhou, e que pode desempenhar todas as posições. (veja aqui)


Lateral Esquerdo fala sobre isto mesmo numa publicação.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Tomada de decisão na finalização

O que condiciona o momento da finalização? O enquadramento do jogador com a baliza? A posição do Guarda redes? A colocação que decide colocar na bola? E por fim, o sucesso do gesto técnico?
A percepção destas todas condicionantes, são preponderantes para existir golo, senão vejamos:


Salah (no vídeo), percepciona o contexto da jogada? Ou pura e simplesmente chuta, na esperança que Krul não apanhe a bola. Quantas vezes Salah focou a baliza antes do remate? Nenhuma! Ora se não olhou,  como conseguiu perceber a posição do GR, e face ao seu enquadramento com a baliza, decidir para onde ia colocar a bola?

Tenho então a sorte de estar num clube (Associação Desportiva de Olhão - 4 ao Cubo) em que me encontro rodeado de pessoas com tanta curiosidade como eu, então após observar que este fenómeno do "remate ao acaso", acontecia muito mais vezes que o desejável, decidimos quantificar isto em valores.

O escalão analisado foi o de Infantis A, em dois jogos, apresentando os seguintes valores:



Foca a baliza antes da finalização
Não foca a baliza antes da finalização
7 de Dezembro de 2013
13 remates (8 Golos)
17 remates (2 Golos)
4 de Janeiro de 2013
10 remates (7 Golos)
23 remates (2 Golos)

37%
(65% destes remates dão golo)
63%
(10% destes remates dão golo)








 

Percebe-se à partida que os jogadores focam a baliza muito menos vezes que o aceitável. No entanto, 65% das vezes que percepcionaram o contexto, marcaram golo, ao invés que apenas 10% dos remates deram golo quando não focaram a baliza.
Claramente se comprova a importância da percepção no momento da finalização, demonstrando que esta está intimamente ligada ao sucesso da acção.

Posto isto, começou-se a realizar trabalho específico neste sentido, e após muitos exercícios de finalização com alvos, com decisão controlada pelo treinador, entre outros, neste fim de semana, optamos por voltar a recolher resultados:


Foca a baliza antes da finalização
Não foca a baliza antes da finalização
15 de Fevereiro de 2014
12 remates (6 golos)
5 remates (0 golos)

71%
(50% destes remates deram golo)
29%
(não existiram golos)








Denota-se uma clara melhoria na preocupação dos atletas em focarem a baliza antes da finalização, e que o trabalho realizado obteve sucesso.

Esta trata-se de mais uma prova de que o Scouting pode ser utilizado para o benefício e melhora da performance das próprias equipas!!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Uma boa estratégia com uma aplicabilidade perfeita

O Liverpool conseguiu trucidar completamente o Arsenal com uma estratégia muito bem montada, que conseguiu limitar quase de forma completa o adversário e explorar os pontos fracos deste.

Nota: Esta análise é realizada à equipa do Liverpool e centra-se particularmente na 1ª parte,onde o Liverpool construiu o 4-0.

Apresentou-se em 1-4-1-2-3, sendo que nos momentos ofensivos passava para 1-3-4-3 (Gerrard baixa para o meio dos centrais)

Organização Ofensiva:
1ª fase: Bola nos centrais ou em Gerrard (baixava para 3º central) para tentar bola profunda. A bola foi sempre colocada nos corredores laterais.
A partir do momento em que ganhavam profundidade, ultrapassando quase toda a linha média do Arsenal e encarando a linha defensiva, procurava movimentações entre o seu ataque móvel (sempre em inferioridade).


Organização Defensiva:

Apenas ficava um elemento mais adiantado. Extremos baixavam e fechavam corredores laterais, enquanto que defesas laterais, fechavam espaço interior.  Clara protecção do espaço interior, onde a equipa se encontrava muito compacta. Orientou sempre a pressão para os corredores laterais, para ai, pressionar forte  e com superioridade numérica.


Transição Defensiva:

A reacção à perda consistia numa pressão imediata e intensa por parte do homem mais perto da bola. Os restantes jogadores basculavam muito bem e ocupavam uma marcação zonal, procurando ter sempre homens perto. Objectivava que o Arsenal jogasse em profundidade (contrariando o seu característico futebol apoiado e por espaços interiores), obrigando-o a errar.
Haviam claros estímulos de pressão: bola nos corredores; bola em Sagna e em Mertesacker.


Transição Ofensiva:

Uma grande verticalidade, procurando quase sempre passe profundo para as laterais, jogando ai, até definir último passe para o interior. Tenta chegar rápido com vários homens, criando igualdade ou superioridade numérica, ocupando sempre os 3 corredores. Coutinho preponderante nos passes de ruptura. Procurou também explorar a pouca velocidade e a desorganização da defesa do Arsenal (centrais sempre muito abertos; Sagna atrasado; não existia médio defensivo definido para garantir superioridade numérica na transição defensiva ), para explorar bolas nas costas.



Erro:

Situação potencialmente perigosa do Arsenal.
Transição defensiva mais demorada, bloco desposicionado. É Cissokho quem fecha o corredor lateral por Sterling ainda se encontrar longe. Sagná joga rápido e a partir daí desposiciona defesa adversária, criando marcação HxH. Muito má a abordagem se Skrtel, valeu a deficiente conclusão de Giroud.




Destaques:

Coutinho - Excelente nos passes de ruptura, grande agressividade a defender e excelentes compensações defensivas.
Gerrard - O líder da equipa, preponderante na manobra defensiva.
Sterling - Muito aplicado, cumpriu sempre defensivamente, muito intenso na pressão, e aproveitou muito bem as lacunas de Sagna/ Mertesacker.

Conclusão:

Liverpool anula Arsenal ao orientar a pressão para as laterais, tirando o Arsenal do interior. Não lhes permite também jogar curto, pela pressão intensa (obrigando a jogar directo), e pela excelente marcação zonal, cortando sempre as linhas de passe ao Arsenal (também esteve pouco dinâmico).
Rapidíssimo na transição ofensiva, criando situações de igualdade e superioridade numérica.