terça-feira, 16 de agosto de 2016

Portugal no Euro. Mudança de paradigma também no futebol de formação?


Iniciamos a nova época desportiva com um acrescento no alento de cada treinador português.
Portugal Campeão Europeu!
Sem dúvida que será benéfico para todos os intervenientes do jogo, quer jogadores, treinadores, agentes, etc. A credibilidade criada por um título é insubstituível.

Como qualquer português fiquei extremamente feliz com este feito, apesar de não me sentir identificado com as ideias e ideais da nossa seleção.
Sabe-se que habitualmente as grandes competições pela exposição mediática que é criada, são vistas e analisadas por todos, criando-se (perigosamente) novos paradigmas no que diz respeito ao "jogar". Este foi claramente o Europeu do equilíbrio, onde equipas com menor qualidade individual/coletiva conseguiram equivaler-se às restantes.
Procurando uma (perigosa) generalização, conseguem-se identificar alguns padrões nas equipas mais "marcantes" deste Euro:
- A marcação individual foi o método de jogo defensivo;
- Equipas com um bloco baixo, com linhas de espera no seu meio-campo;
- O contra-ataque e  ataque rápido foram o método de jogo ofensivo, deixando que o adversário assumisse o jogo;

Se exceptuarmos a Alemanha, Espanha, Croácia e a Bélgica (que teve intenções, mas pouco organizada) foi raro sentirmos que alguma equipa tinha a intenção clara de assumir o jogo, ou que procurava dominar os comportamentos dos adversários através da sua posse e rápida reação.

Transferindo isto para a minha realidade (ainda curta) de Treinador de Futebol de Formação, e estando neste momento a ultimar os preparativos para a nova época, tenho tido em conta um receio de encontrar com maior regularidade equipas com os padrões de jogo referidos anteriormente por parte das equipas de futebol de formação pelo nosso país.
Ora como o nosso selecionador disse que "As finais não se jogam, ganham-se". Não concordando em absoluto com a expressão, entendendo que terá de haver sempre um processo que justifique a vitória, no entanto percebo e respeito-a, no que diz respeito ao escalão senior. No entanto, não a "aceito" se esta for aplicada no futebol de formação, onde é necessário dar aos jovens futebolistas muito tempo de interação com a bola (mesmo dentro do próprio jogo) com ações "pensadas", procurando assumir jogo ou ser parte integrante deste.
Se dermos aos nossos pequenos futebolistas um modelo de jogo onde deixamos o adversário assumir, onde nos fechamos no nosso meio-campo, onde a maioria das suas ações técnicas serão defensivas, e as ofensivas existindo serão de muito curta duração, estaremos a oferecer um contexto onde não estamos a potenciar aquilo que de mais valioso tem um jogador, a sua criatividade, a sua confiança com bola, a sua capacidade técnica (pela quantidade de toque necessária para a exponenciar), a sua capacidade de decidir, etc.
Sabendo que não existem fórmulas no futebol, anseio pela nova época desportiva e por me enganar redondamente nisto que escrevi.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Processos de uma equipa e o seu padrão de Decisão

Partilho hoje duas imagens que ilustram o trabalho que vem sendo feito este ano, desta vez com uma equipa de futebol 11.
Processos bem definidos, a nível posicional principalmente.

Falemos da imagem abaixo, em Organização Defensiva, onde estão presentes todos os princípios do jogo, desde a contenção até à concentração (e até o "5º o controlo", é visível para onde queremos que ele vão).

No entanto, a basculação vertical da linha defensiva a não ser ainda a mais exacta (podia estar ligeiramente mais subida). Habitualmente também não é pedido que o Avançado baixe tanto.



Em Organização Ofensiva também próximos daquilo que é idealizado.
Ainda sem a largura desejada para os Defesas Laterais (pretende-se que a curto/médio prazo, sejam estes a dar a largura máxima) por alguma insegurança na posse, prevenindo assim a reacção à perda.
Avançado procura a profunidade, "aumentando" o nosso campo, e Extremos procurando vir dentro (Lateral por "fora", extremos "dentro").
Médio Defensivo a procurar pegar na construção, tentando ligar com os médios centros ou Extremos/Laterais.



Está tudo bem definido e assimilado quanto àquilo que deve ser feito nos diferentes momentos de jogo. As dificuldades surgem então ao nível da decisão, não fosse essa das "particularidades" mais importantes do jogo. E é aí que o padrão decisional ainda não é homogéneo. E atenção que homogeneidade não pode ser confundida com padronização de acções ou com um corte com a criatividade. Este padrão prende-se com o momento em que sabemos quando podemos ir para "dentro", quando devemos variar o centro de jogo, quando podemos acelerar e quando devemos organizar, quando são necessárias as combinações ou maior transporte. E aqui, tem muito a ver com o passado individual de cada de jogador, com aquilo que fez anteriormente, com o que era preconizado nos seus anteriores modelos de jogo. E com um plantel constituído com atletas vindos de contextos muitos diferentes, estaremos sempre mais expostos a isto.
A posse está cada vez mais segura e objectiva, mas depois basta um 1x1 ou um passe na ruptura no momento errado (etc.), e voltamos a perder a posse e mais importante que isso ficamos expostos defensivamente para que o adversário encontre espaços para sair no contra-ataque ou ataque rápido.
Até agora os resultados (referindo-se à classificação) não têm sido os esperados, com muitos golos sofridos consequentes de perdas. E é certo que quem procura ter a bola e jogar "bem" estará sempre mais exposto.